Conheça Negro Matapacos, vira-lata manifestante do Chile

Saiba mais sobre o vira-lata manifestante conhecido como Negro Matapacos, um cão que participou de manifestações em Santiago (Chile).

negro matapacos com um lenço azul

Oi, eu sou a Caju!

Hoje eu venho apresentar para vocês um outro cãozinho que ficou muito famoso pelos seus feitos no campo de batalha. Literalmente.

Negro Matapacos foi um cão sem raça definida (SRD) que ganhou notoriedade em um dos nossos vizinhos, o Chile.

Vamos conhecer esse grande personagem corajoso que lutou por melhores condições para o povo de seu país!

Quem foi Negro Matapacos?

A história começa em 2011. O Chile vivia um momento conturbado por conta de seu sistema educacional.

Cansados, estudantes tomaram as ruas da capital chilena, Santiago, para protestar contra o presidente em exercício, Sebastián Piñera, então em seu primeiro mandato.

O motivo das manifestações era o pedido pelo fim do lucro e do controle empresarial na educação. Como contexto, entre 1989 e 2015 o Chile possuía uma legislação que tratava a educação como um negócio, de modo que eram raras as escolas gratuitas.

Até mesmo as públicas, já que a maioria delas foi entregue por concessão a grupos privados.

As manifestações foram fortemente reprimidas pelas forças armadas chilenas e os estudantes respondiam na mesma moeda. Eis que, no meio daquele campo de batalha, surge um vira-lata todo negro avançando entre os escudos para morder os policiais.

Era Negro Matapacos.

negro matapacos avançando em um policial

Ele passou a ser chamado dessa forma justamente por conta de sua ação no front. Em tradução literal, seu nome significa “Negro Mata Policiais” – “paco” é a gíria chilena para se referir aos Carabineros de Chile, a polícia uniformizada local.

Como companheiro fiel e corajoso, enfrentou canhões de água, chutes e gás lacrimogêneo ao lado dos protestantes, sempre atacando os policiais e tentando proteger os estudantes que lutavam.

A sua bravura chamou a atenção dos manifestantes, que logo o “adotaram” e passaram a cuidar dele.

A fama de Matapacos entre os estudantes e cidadãos aumentou a ponto de ter fotos suas compartilhadas em redes sociais e até um perfil com o seu nome criado no Facebook.

Origem e batalhas

Mas se engana quem pensou que o cãozinho não tinha um lar fixo. Na verdade, uma mulher chamada María Campos era quem cuidava de Matapacos desde 2009, muito antes da fama.

Ela o adotou, o alimentou, cuidou dele e ainda trocava os lenços vermelhos de seu pescoço tão característicos, que sempre usava nos dias das manifestações. Os lenços eram a sua armadura de batalha.

Chamado de Loukanikos chileno, em alusão ao vira-lata manifestante grego, há registro de Matapacos ter se ferido em duas oportunidades. 

Na primeira delas, durante uma briga com um outro cachorro, nas ruas de Santiago. A segunda, no campo de batalha. Ele foi atropelado por um veículo policial e precisou ser tratado na Universidade Alberto Urtado, onde se recuperou completamente.

Documentário sobre Negro Matapacos

A fama de Matapacos alcançou o nível de celebridade.

Tanto que em 2013, os diretores Victor Ramirez, Carolina Garcia, Nayareth Naim, Francisco Millán e Sergio Medel da Enmarcha Films, fizeram um documentário contando a história do vira-lata.

A película ganhou Melhor Documentário no Festival de Santo Tomas de Viña do Mar.

negro matapacos fugindo de um jato de água

Morte e homenagens

As manifestações acabaram e Negro Matapacos voltou à sua vida de “civil”. Como nem toda história termina com um final feliz, o vira-lata faleceu no dia 26 de agosto de 2017 de causas naturais. 

Há quem diga que morreu de velhice, embora a idade correta dele não fosse conhecida. Também há quem diga que foi acometido por uma doença em seu último ano de vida, e que ela teria sido a responsável pela sua morte (tadinho!).

Reza a lenda que ele gerou, ao todo, 32 filhotes, com 6 cadelinhas diferentes.

Após a sua morte as homenagens se seguiram. Em federações estudantis, principalmente, onde é considerado como um protetor daqueles que se manifestam.

Em 2019 o Chile passou por mais uma batalha interna, com novas manifestações estudantis contra o mesmo presidente, Sebastián Piñares.

Dessa vez, estudantes do ensino médio foram às ruas de Santiago – e também de outro locais do país – para exigir gratuidade das passagens do metrô da capital, que tinham acabado de sofrer aumento nos preços.

E, claro, Matapacos voltou a ganhar notoriedade.

Nas paredes, nos cartazes, bandeiras, adesivos e camisetas, lá estava o símbolo da revolução estudantil, novamente no front de batalha, protegendo os estudantes através de sua presença, agora somente lendária. 

Cartazes com a figura de Matapacos e dizeres como “estái presente” e “en su memoria” foram vistos no meio da multidão sendo erguidos em homenagem ao manifestante canino e protetor da multidão estudantil.

Estátuas e vandalismo

estátua de negro matapacos

A história do cãozinho também foi reproduzida em quadrinhos, jogos eletrônicos e também murais. Mas as principais homenagens vieram em forma estátua.

Uma delas está em Iquique, enquanto a outra, gigante, foi instalada no dia 15 de novembro de 2019 na Plaza a la Aviación de Providencia.

Infelizmente, esta última foi duas vezes vandalizada. Na primeira delas, foi pintada de verde (cor dos Carabineros) no dia 26 de novembro, menos de duas semanas depois de sua construção.

Ela foi repintada de preto no mesmo dia, mas na manhã seguinte, o segundo ato de vandalismo: foi incendiada e destruída.

A atitude gerou revolta entre os manifestantes, que fizeram questão de encher a estrutura metálica que sobrou com plantas e flores, de modo que o formato de Matapacos ficou preservado.

Assim como é até hoje preservado no coração não somente dos manifestantes, mas de todos aqueles que já se depararam com a sua corajosa história. 


Bom, esse foi Negro Matapacos, o cãozinho chileno que lutou pelo povo de seu país.

Existem outros além dele que ficaram famosos por grandes obras na história humana, como a Marjorie, a Laika e o Loukanikos.

Se você ainda não os conheceu, tenha certeza que conhecerá. Até lá, saiba que nós cães (e até mesmo alguns gatos) temos importante papel na sua história e somos tão corajosos e leais quanto todos vocês!

Créditos das imagens: Wikipedia e Página no Facebook.

Ex-vira-lata, já passei por poucas e boas. Morei na rua por mais de três anos, apanhei muito, operei as mamas para remoção de um câncer e agora sou blogueirinha! Siga-me no instagram!

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