Conheça Boneco, vira-lata mascote do Independiente

Gosta de cachorros e de futebol? Então veja a história de Boneco, um SRD que foi mascote durante campanhas vitoriosas do Independiente.

boneco posando para foto

A história do Club Atlético Independiente, clube de futebol da cidade de Avellaneda, na Argentina, é cercada de glórias esportivas.Conhecido entre os seus torcedores como o “Rei de Copas”, é o maior vencedor da Copa Libertadores da América, tradicional competição de clubes do continente sul-americano, com sete conquistas.

Mas essas conquistas não seriam as mesmas sem uma importante figura que virou o amuleto da sorte do clube na década de 70: Boneco.

Boneco foi um cãozinho sem raça definida (SRD) que virou mascote do Rojo no período de maior conquistas do clube. Com seu dono, Lolo, o vira-lata ganhou a fama de trazer boa sorte e passou a acompanhar o time dentro e fora de campo. 

A história do cachorro Boneco

A história de Boneco começa com Lolo, o companheiro do cãozinho.

Reza a lenda que Lolo era, na verdade, era Juan Carlos Malodin (há quem diga que seu nome era Juan Carlos Masludin Alumá), um ex-jornalista brasileiro que decidiu abrir mão de toda a fortuna que acumulou durante a vida para viver nas ruas da Argentina.

Quando Lolo morava embaixo de uma ponte, no bairro de Palermo, sofrendo com uma terrível perna gangrenada, Boneco apareceu e se juntou àquele que viria a ser o seu companheiro pela resto de sua vida.

Vendo o quanto seu mais novo amigo estava ferido, Boneco passou a lamber a perna esquerda de Lolo repetidas vezes até que estivesse totalmente curada. Lolo não entendeu como aquilo aconteceu, mas ficou extremamente grato ao vira-latinha.

Há algum tempo sofri um acidente. Minha perna esquerda estava gangrenada e duas vezes eles estavam prestes a cortá-la. Eu recusei, e graças a isso hoje estou com ela e posso me locomover sozinho. Aconteceu que o Boneco lambeu diariamente minhas feridas e acabou ficando com os germes. Três anos foram suficientes para uma recuperação total, e nesse período eu o eduquei.

Lolo em entrevista à Revista Goles, em 1974

Mais tarde, Lolo passou a ensinar a Boneco – como passou a chamá-lo depois do encontro entre os dois – truques e piruetas que tornaram a dupla famosa.

E após passar um bom tempo divertindo pessoas por pequenos trocados nas ruas, passaram a frequentar festas e aniversários infantis, às vezes até circos, o que rendeu dinheiro suficiente para que alugassem um apartamento em Palermo e também comprar um Fiat 600, carro popular da época.

Boneco, Lolo e o Independiente

boneco e o time do independiente

Reza também a lenda que durante as excursões circenses com Boneco, Lolo resolveu apresentar o seu amigo a uma das suas paixões, o Independiente.

Foi então que os dois apareceram um dia no vestiário do clube (não se sabe ao certo como), e começaram a animar os jogadores do Rojo com os truques do esperto cãozinho.

Quem relata a história é Ricardo Pavoni, ex-capitão e um dos maiores ídolos da história do clube argentino, e que conviveu de perto com Lolo e Boneco.

Não tínhamos ideia de quem ele era. Um dia Lolo apareceu com Boneco e eles entraram no vestiário. Ele deu algumas ordens e o cachorro ficou calmo, sem incomodar. Estávamos nos trocando e ele nos pediu permissão para que Boneco entrasse com a equipe como mascote. Naquela época não havia impedimentos e você podia entrar com mascotes. Ele entrou com o capitão e com o brasão do clube na boca. Tiramos nossa foto e ele se sentou ordenadamente no meio. Logicamente depois virou costume e pedimos que ele viesse.

Ricardo Pavoni, ex-capitão do Independiente

E naquela noite, no dia 24 de março de 1974, quando entrou em campo pela primeira vez carregando a flâmula do Rojo, a mística em torno da boa sorte de Boneco encontrava um argumento irrefutável: um sonoro 4 x 1 sobre o Racing, maior rival do Independiente.   

Dali em diante a entrada de Boneco no gramado juntamente com a equipe passou a ser rotineira. Em todos os jogos do Rojo, lá vinha Boneco com o escudo entre os dentes, com seu rabo abanando em felicidade e recebendo a ovação do público presente.

Mais do que isso: o vira-latinha passou a fazer parte do clube, viajando com o time para jogos fora de casa e participando das confraternizações promovidas pelo clube. Nessas confraternizações, aliás, Boneco costumava mostrar um pouco mais de suas habilidades.

“Ele fez coisas incríveis. Às vezes, quando a gente jantava com as famílias na sede, onde ia muita gente, você dava um lenço ou um pedaço de pau e ficava dizendo ‘Vamos, dá pro Lopez’, ele procurava mesa por mesa e o encontrava. Ele era muito inteligente”, revelou Pavoni.

A fama de Boneco

Boneco no filme Gorosito y Señora
Boneco no filme Gorosito y Señora.

Boneco logo se tornou uma celebridade na Argentina, e chegou a estrelar filmes e séries originais do país. O cãozinho fez pontas em “Los Gauchos Judíos”, “Adiós Alejandra”, “No hay que lojarle a la vida” e o mais famoso deles, a comédia “Gorosito y Señora”, estrelada por Santiago Bal e Susana Brunetti.

Reza a lenda também que o mix de Border Collie e Pastor Alemão tinha até passaporte internacional, e que costumava viajar com a equipe no voo de passageiros. Pavoni relata o fato.

“Nós pedíamos para ele ir. E digo mais: muita gente não acredita em mim, mas ele viajou para o Peru no voo de passageiros. Aparentemente, ele tinha algum tipo de autorização. Ele viajou conosco no assento. Era parte de nós”, contou.

A história, infelizmente, não poderia terminar com um final feliz. Pelo menos não para quem não entende o que é o peso da amizade e lealdade entre um cão e o seu dono.

Fim do jogo

Boneco e Lolo subitamente deixaram de frequentar o vestiário do Independiente. Os jogadores não entenderam o que havia acontecido, até saber do ocorrido por um amigo da dupla que também tinha trânsito entre os jogadores.

“Era uma parte nossa, quando ele entrava no vestiário nós o acariciávamos. Foi mais um. Descobrimos por acaso que ele morreu por intermédio de um amigo deles que às vezes ia ao vestiário”, conta Pavoni.

“Descobrimos que o cachorro também havia falecido. Foi um golpe duro para nós. Sabíamos que ele acompanhou o Lolo até o último momento”, completou.

E acompanhou mesmo, literalmente. Contam os relatos que Boneco se manteve a todo instante ao lado do caixão no enterro de Lolo. E permaneceu fielmente sobre o seu túmulo por dias, até que a morte o levou também. Um final emocionante e impressionante, digno dos filmes hollywoodianos e também das grandes histórias do futebol.

Tendo passado por uma das fases mais gloriosas do Club Atlético Independiente, Boneco ainda aguarda uma singela homenagem por parte do Rojo.

A criação de uma estátua para o cãozinho foi idealizada para compor o museu do clube, mas o projeto fracassou.

Que algum dirigente ponha a mão na massa para registrar no bronze o que está nas bocas dos avôs e dos netos, e também no coração de todos os torcedores rojos.

Créditos das imagens: ESPN.

João Felipe
Formado em Administração de Empresas, o hobby pela leitura e escrita naturalmente me levaram para o caminho de trabalhar como Redator. Trabalhando há dois anos nas horas vagas. E nas ocupadas também.

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