Carrocinha: como era e que fim teve o pesadelo dos vira-latas?

O programa cruel de recolhimento e eliminação de animais de rua é proibido hoje em dia. Veja tudo sobre a história da carrocinha e como é importante que ela não seja mais o que era antes.

carrocinha (veículo com animais presos em uma gaiola)

As pessoas mais jovens podem nem conhecer o termo “carrocinha” no sentido que ele tinha antigamente.

Pensando nisso, resolvi fazer esse pequeno resgate histórico sobre o programa cruel de recolhimento de animais vira-latas.

Veja como funcionava e que fim teve a carrocinha!

O que era a carrocinha?

A carrocinha era o nome dado ao programa de recolhimento e extermínio de animais de rua, geralmente promovido por prefeituras e governos estaduais.

Era composto por veículos com caçambas, geralmente vans ou pequenos caminhões baús, que capturavam animais “vira-latas” e os aplicava o trágico destino da eutanásia em centros de controle de zoonoses. 

Infelizmente, os métodos usados para se livrar dos animais eram de extrema crueldade, como morte em câmara de gás, asfixia, pauladas ou por eletrochoque.

No período de existência do programa, milhões de cães e gatos saudáveis foram assassinados em todo o mundo. 

No Brasil, a prática foi comum em diversas cidades, estados e regiões, sobretudo no Sudeste. Seu período mais ativo foi entre os anos 70 e 90, onde estima-se que milhares de animais saudáveis tenham sido exterminados em terras brasileiras.

Mitos e verdades sobre a carrocinha

Durante a vigência dos programas de carrocinha, em todo o Brasil, várias informações a respeito do procedimento eram repassadas de forma errada.

Com isso, surgiram muitas informações questionáveis.

Veja os mitos e verdades sobre a carrocinha:

Cães eram usados para fazer sabão: mito

Uma fake news comum a respeito da carrocinha era de que os cães eram usados para fazer sabão.

Na verdade, isso surgiu de uma confusão envolvendo os veículos que capturavam os animais de rua. Estes eram parecidos com os veículos que recolhiam carcaças de açougues para usar a gordura animal para produção de sabão. 

Ninguém tentou impedir a carrocinha de matar animais: mito

Não é verdade.

Ao redor do mundo, inúmeros ativistas e protetores foram contra a carrocinha desde a sua implantação. Por causa disso, muitas ONGs foram criadas, com intuito de proteger os animais do trágico extermínio promovido pelas autoridades locais. 

Um estudo realizado pela Universidade Federal do Espírito Santo aponta que, desde os primeiros registros da “carrocinha”, no século XIX, uma considerável parcela da população já era contra a prática.

Tanto que o personagem do “homem da carrocinha” sempre foi descrito em obras diversas como uma figura hostilizada e temida. 

No Brasil, o mesmo estudo afirma que o ápice das manifestações públicas contra a carrocinha se deu nos anos 90, culminando posteriormente em leis municipais e estaduais se proteção aos animais errantes. 

o homem da carrocinha
“O homem da carrocinha”

A carrocinha capturava crianças malcriadas: mito

Entre os anos 80 e 90, principalmente, era muito comum pais usarem ameaças para exigirem o bom comportamento das crianças.

Uma dessas ameaças consistia em dizer que a carrocinha capturava meninos e meninas malcriados. Por causa disso, muitas crianças tiveram traumas e costumavam se esconder quando a carrocinha passava na rua. 

Porém, isso não passou de um mito, além de uma metodologia de péssimo gosto para “aquietar” crianças. A carrocinha capturava apenas animais de rua, como cães, gatos, porcos e até alguns equinos. 

Houve adesão ao uso de coleiras no período da carrocinha: verdade

É verdade que as coleiras entraram muito em uso durante a vigência da carrocinha.

Os tutores que tinham medo de perder seus cães, principalmente os que ficavam sós na rua, faziam uso de coleiras com informações de contato e endereço. Era uma alternativa de promover a segurança do animal. 

Quando a carrocinha foi extinta?

A carrocinha já surgiu problemática em vários locais do mundo, devido a inúmeras críticas de ativistas da pauta animal e de tutores que perdiam seus cães levados por engano.

Este último caso era tão comum no Brasil, que geralmente existia um prazo de 3 dias para matar animal, que era o intervalo para o tutor reclamar seu cão ou gato de volta. 

O início da “queda” da carrocinha no Brasil começou em 1998, com a implantação da Lei 9.605/98 de punição a delitos ambientais.

No Art. 32, é declarada pena de prisão de três meses a 1 ano para quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. Caso o ato resultasse na morte do animal, a pena é ampliada. 

A lei tornou pública a percepção da crueldade dos programas de carrocinha.

Contudo, foi somente em 17 de abril de 2008 (10 anos após a Lei 9.605/98), que foi sancionada a Lei Feliciano, do deputado Feliciano Filho, que passou a proibir especificamente o extermínio indiscriminado de animais por agentes do Estado e Poder Municipal.

Veja também: Dia Mundial dos animais de rua (vira-latas)

Para ser bem sincero, ainda existe o programa de recolhimento de animais de rua em vários locais, com a diferença de que, hoje em dia, eliminar cães e gatos é um ato criminoso.

Sendo assim, estes passam por castração e são colocados para adoção em abrigos ou realocados para ONGs. 

No entanto, nos noticiários, ainda é possível ver cães e gatos sendo assassinados cruelmente por funcionários do Estado e de prefeituras em alguns locais do país.

Recentemente, funcionários de uma cidade do Maranhão foram exonerados pelo extermínio de cães de rua, como aponta o Portal G1.

Animais de rua merecem respeito e cuidados

Assim como todos os animais, os vira-latas também sentem frio, fome, medo, dor, etc.

Fingir que eles não existem ou os tratar com violência é, além de uma prática maldosa, um ato criminoso e punível pela lei. Por isso, saber como funcionava a carrocinha e como ela teve seu fim é importante para a conscientização dos direitos animais.  

Cães de rua podem se tornar cães comunitários, cuidados pela vizinhança. Por isso, se você pode contribuir alimentando, realizando castração, cuidando de ferimentos, entre outras benfeitorias, você será a diferença na vida desse animal.

Você tem interesse em saber mais sobre os animais de rua? Veja o nosso artigo fatos sobre o abandono de cães e gatos no Brasil e ajude no combate ao problema!

Até a próxima.

Créditos das imagens: Estadão.

Leo Vieira
Jornalista, pernambucano, escritor e fanático por video-games. Trabalha com comunicação há mais de 6 anos, passando por jornal impresso, TV, internet e assessoria de imprensa. Gosta do mundo das artes, principalmente música e artes visuais. Fã de plantas e do bom uso da língua portuguesa. Siga no instagram!

Comentários

  • Eu era criança nesta época e lembro deste fato triste, só não sabia o que faziam com os animais. Triste o fim deles.

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